Fatores psicológicos e obesidade infantil
Atualmente, a obesidade pode ser vista como um importante problema de saúde pública. O excesso de gordura no corpo conduz a sérias consequências clínicas tais como infarto, acidente vascular encefálico, diabete tipo 2, alguns tipos de câncer (endometrial, mama e cólon), dentre outros problemas orgânicos. Segundo estudos epidemiológicos, a obesidade vem crescendo nos últimos anos dentre crianças, adolescentes e adultos. Com isso, os gastos públicos com os cuidados relacionados às complicações derivadas da obesidade vêm acarretando um impacto significativo aos sistemas de saúde, especialmente, no Brasil.
A atenção à obesidade infantil tem se apresentado um fator relevante, pois traz complicações importantes na fase adulta, como dislipidemia, hipertensão arterial, diabetes e síndrome metabólica, além de estatísticas demonstrarem que 8 (oito) em cada 10 (dez) adolescentes obesos permanecem obesos na idade adulta. Adicionalmente, um estudo de 20 anos de acompanhamento observou que a obesidade infantil está bastante associada à presença de sintomas depressivos e ansiosos na fase adulta em mulheres. Portanto, a prevenção da obesidade na infância torna-se uma importante questão de saúde pública.
O fácil acesso a alimentos de alto teor calórico e o sedentarismo relacionado ao tempo de televisão e uso de jogos eletrônicos excessivo são os principais determinantes para o surgimento da obesidade em crianças. No entanto, alguns autores apontam que a questão da obesidade é de natureza complexa, com diversos fatores interagindo para seu surgimento, sendo de difícil compreensão, necessitando de uma abordagem multidisciplinar, considerando-se os aspectos psicossociais do comportamento alimentar. De fato, um estudo realizado em 1995 pela Universidade Federal de São Paulo com 134 crianças apontou que 76% apresentavam fatores emocionais relacionados às causas da obesidade.
Dentre os fatores psicológicos associados a obesidade infantil, a ansiedade apresenta-se como um fator importante e negligenciado. Em função da limitação no acesso a atividades esportivas e sólidas interações sociais, decorrentes das condições restritas de segurança nas grandes cidades brasileiras, e a alta cobrança escolar a que estes jovens possam estar submetidos, dada a elevada expectativa dos pais pelo desempenho escolar dos filhos num mundo cada vez mais competitivo e desafiador para as novas gerações, o estresse em crianças torna-se uma realidade preocupante. Neste âmbito, para dar conta dos sentimentos desagradáveis, as crianças podem recorrer a alimentos saborosos, contendo elevado teor calórico, como um recurso para aplacar a angústia relacionada à ociosidade ou excessivo envolvimento com compromissos não intrinsecamente prazerosos muito presente em crianças pertencentes a famílias de alto poder aquisitivo. Em termos cerebrais, a alimentação altamente calórica ativa o chamado circuito de recompensa, um conjunto de estruturas neurais geradoras de prazer e satisfação. Portanto, se o cotidiano das crianças, na realidade brasileira atual, favorece o surgimento do estresse, a ingestão de alimentos calóricos pode compensar os sentimentos indesejados, trazendo relativo conforto às crianças.
Sendo assim, paralelo a uma readequação nos hábitos de vida, com criação de ocupações intrinsecamente motivadoras, torna-se muito importante dar conta às eventuais demandas emocionais das crianças, com a criação de estratégias de redução da ansiedade, atenção aos próprios sentimentos e sua expressão adequada, como o ensino de técnicas de mindfulness* a crianças, pode contribuir significativamente para a redução de problemas emocionais derivados da obesidade infantil, além de combater o comportamento sedentário e ingestão compulsiva de alimentos calóricos não saudáveis.
O projeto OCARIoT, uma inciativa de colaboração internacional SERMAS-Unifor para prevenção e combate á obesidade infantil, tem como um dos seus objetivos o ensino e incentivo do uso dessas técnicas por pais e crianças, visando criar um ambiente emocional propício para a disciplina no comportamento alimentar, prática de exercícios físicos e promoção do bem estar.
*As técnicas de mindfulness apresentam variações, mas, de forma geral, envolvem prestar atenção ao momento presente, estar atento ao que se passa em seus sentidos (visão, audição, tato…) no aqui e agora.
Tauily Claussen D´Escragnolle Taunay
– Psicólogo – CRP 11/05595 (UFC)
– Coach (Academia do Psicólogo)
– Professor de Psicologia (Unifor)
– Coordenador do Laboratório de Neurociências e Psicologia Positiva (Unifor)
– Doutor em Ciências Médicas (Faculdade de Medicina/UFC)Nossas Redes Sociais:
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