
O papel dos educadores em saúde no processo de adesão da escola e dos pais para o enfrentamento da obesidade infantil
Nos processos de mudanças de hábitos e articulação para a melhoria da qualidade de vida e saúde nas escolas, o envolvimento de todos os membros da comunidade escolar é determinante para o sucesso das ações. Nesse contexto, a atuação dos educadores em saúde merece atenção especial, diante das contribuições que esses profissionais oferecem à implementação das ações de promoção da saúde e pelo conhecimento profundo que têm sobre a realidade em que atuam.
Para isso, os educadores em saúde precisam estar devidamente preparados para manter uma interlocução contínua com a população-alvo das suas ações, no sentido de favorecer a ampliação do conhecimento sobre saúde, possibilitando que a significação e a ressignificação dos hábitos de vida sejam capazes de levar a comportamentos mais saudáveis.
Historicamente, o termo educação em saúde inclui educação sanitária, educação e saúde, educação para a saúde e educação popular em saúde, uma vez que estas constituem uma diversidade de estratégias focadas nas pessoas e na coletividade, buscando, entre outras coisas, ampliar as possibilidades das pessoas fazerem escolhas e adotarem melhores hábitos de vida (FALKENBERG, 2014; ALVES; AERTS, 2011). Assim, o projeto Ocariot anda nesse sentido, contando com a figura de educadoras em saúde, as quais atuam junto à equipe escolar e aos pais, na busca do real engajamento destes no processo de enfrentamento da obesidade infantil.
No ano de 2018, duas educadoras em saúde associadas às equipes de saúde e de tecnologia do Ocariot mobilizaram um trabalho bem sucedido com as escolas onde o projeto está sendo desenvolvido. Isto possibilitou o envolvimento de todos, a partir de um pensar crítico e reflexivo, que permitiu o conhecimento dos cenários de aplicação do projeto e a proposição das estratégias de coleta de dados e de ações transformadoras voltadas à autonomia e à corresponsabilização da escola e das famílias no projeto. Nessa trajetória, foram realizadas reuniões com os coordenadores, os professores, os pais dos alunos e as crianças do ensino fundamental para a apresentação do projeto, a captação dos participantes para os testes-piloto e dar devolutivas sobre os resultados das coletas dos dados de saúde.
Os momentos de interlocução das educadoras em saúde do Ocariot com todos os evolvidos no projeto alinham-se às premissas estabelecidas pela área de Saúde Coletiva, respeitando o ser humano no seu contexto temporal e espacial, tornando-o capaz de sugerir e indicar posicionamentos nas decisões de saúde para cuidar de si, de sua família e de sua coletividade.
Nas escolas, a associação das equipes de coordenação e dos professores às educadoras em saúde foi estratégica para o desenvolvimento do primeiro ano do Ocariot, uma vez que participaram das reuniões de planejamento das ações, da organização do material e da preparação do ambiente para a coleta de dados. Ademais, as educadoras em saúde acompanharam todas as atividades realizadas pela equipe de saúde na fase do teste-piloto (outubro a novembro de 2018), o que envolveu 138 crianças (8 a 11 anos), 8 profissionais e 18 estudantes, das áreas de nutrição, educação física, fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia, pedagogia, educação em saúde e administração. Nesta ocasião, além do excelente trabalho realizado por todos, as educadoras em saúde mediaram eventuais dificuldades e conflitos que se configuraram durante esta fase, amenizando o clima e mantendo a harmonia da ação.
Entre palestras, reuniões periódicas, coletas de dados e divulgação do projeto, as educadoras em saúde envolvidas na equipe Ocariot atuam como “escuta ativa” e representam forças motrizes de uma ação que já resultou, até dezembro de 2018, na obtenção de questionários com o perfil sociodemográfico das crianças e das famílias; dois tipos de recordatórios alimentares; e avaliações psicológica, antropométrica e de atividade física.
Tudo isso, coloca a equipe brasileira em um patamar de excelência na execução do Ocariot, o que se materializa pelo reconhecimento internacional e local do projeto, uma vez que tanto os parceiros de outros países como os das escolas participantes manifestam elevado grau de credibilidade e de satisfação com o trabalho que vem sendo desenvolvido. Isto pode ser explicado pelo fato da abordagem ser cuidadosamente alinhada em equipe, debatida continuamente com os parceiros e a temática em estudo ser comunicada aos envolvidos de forma concreta, levando à compreensão do problema que se quer enfrentar.
Diante do exposto, confirma-se o importante papel dos educadores em saúde na equipe Ocariot, especialmente no que se refere à eficácia das ações para a adesão da escola e dos pais para o enfrentamento da obesidade infantil. A atuação desses profissionais também configura como um ponto de convergência e alinhamento entre os membros da equipe, os parceiros e os participantes, fazendo com que as ações e os passos do projeto façam sentido àqueles a quem se destina.
Matéria escrita por:
Profa. Dra. Christina César Praça Brasil
– Doutora em Saúde Coletiva – Associação Ampla UECE/UFC/UNIFOR
Nenhum comentário