
O perigo dos hábitos paternos para a saúde de seus descendentes
Em Psicologia, é sabida a máxima de que a melhor forma de ensinar é dando exemplos. Pesquisas em Neurociências justificam o poder dos exemplos pela descoberta dos neurônios-espelho, os quais são grupos de neurônios que se ativam simplesmente por observarmos alguém tendo uma ação com sentido, com objetivo. Sendo assim, boa parte das escolhas, crenças, hábitos, costumes, reações emocionais dos nossos filhos se dão por “contágio social”: eles aprendem, consistentemente, só por testemunhar os pais e outras figuras importantes (irmãos mais velhos, colegas de escola, professores, celebridades etc.) efetuando ações com alta intensidade emocional ou, especialmente, ações repetidas, rotineiras e corriqueiras.
No entanto, descobertas recentes da ciência têm demonstrado que a influencia dos pais no que se refere ao padrão de hábitos e saúde (ou doença) vai muito além do exemplo e podem ser transmitidas geneticamente. O campo de estudo que investiga este fenômeno chama-se Epigenética e trata-se de descobrir se há relações de influência do meio ambiente (estilo de vida) sobre o funcionamento dos genes (epi = acima; genética = relativo aos genes). O fato é que a epigenética tem demonstrado que sim, que podemos influenciar geneticamente nossos filhos com hábitos ou escolhas que fazemos em nossa vida adulta, independente da carga genética herdada dos pais. A epigenética não afirma que nossa sequencia de genes ou nosso DNA é alterado pelo que nós comemos ou se praticamos atividade física, mas a expressão gênica sim. Certo, mas… como?
Foi visto, com base nas pesquisas na área, que o modo como a informação contida em nosso DNA é expressa, regulada, é afetada pelas escolhas no que se refere a alimentação, sedentarismo, manejo do estresse e, até meditação. Os cientistas observaram que existem mecanismos regulatórios em nosso código genético capazes de silenciar ou ativar sequências específicas de nucleotídeos, isto é, “ligar e desligar” genes. Por exemplo, sabemos que a ligação de um grupo metil a um segmento do DNA (processo conhecido como metilação dos genes) impede a leitura daquele gene, silenciando-o. Até esse ponto, nada de muito impressionante. O fantástico está em descobrir que o carinho recebido na infância, o estresse da vida adulta, o padrão de alimentação e de exercícios físicos é capaz de ativar ou silenciar genes saudáveis e não saudáveis. Para induzir este processo, não há segredo: adote um padrão de hábitos saudáveis e genes relacionados à saúde serão expressos, aumentando a longevidade, fortalecendo a saúde, prevenindo doenças e contribuindo para a recuperação de enfermidades.
Neste sentido, pesquisas apontam que hábitos alimentares de baixa qualidade, a obesidade, fumar cigarros, ingerir álcool em excesso pode interferir nos mecanismos epigenéticos regulatórios, alterando o padrão de ativação gênica no indivíduo e podem ser transmitidos durante a fecundação do óvulo e, não bastando, interferindo nas células reprodutoras da filha, ou seja, afetando a neta da pessoa que adotou hábitos não saudáveis.
Sendo a obesidade uma doença multifatorial com componentes genéticos bem estabelecidos, em que medida a tendência ao acúmulo de células adiposas seria influenciada por fatores epigenéticos? De acordo com os estudos, a resposta é sim. O grupo de pesquisa coordenado pelo Dr. Andrew Pospisilik do Instituto Max Planck de Imunobiologia e Epigenética encontrou diferenças na expressão do gene TRIM28 dentre crianças obesas e não obesas, incluindo gêmeos idênticos obesos e não obesos. O fenômeno que um mesmo genótipo expressa distintos fenótipos é conhecido como polifenismo, típico de abelhas nas quais as trabalhadoras e a rainha apresentam o mesmo genótipo, mas aparência bem distinta.
Portanto, o comportamento dos pais é de fundamental importância para a saúde física e mental dos filhos pois, ao que os estudos têm apontado, as consequências do estilo de vida dos progenitores parece ser transmitido epigeneticamente para as próximas gerações, incluindo filhos e netos. Sendo assim, a tarefa de gerar uma criança não envolve apenas responsabilidades financeiras e emocionais, mas envolve, especialmente, cuidar de si anos antes de decidir ter um filho. A boa notícia é que tais efeitos são reversíveis, desde que as necessidades biopsicossociais da criança (alimentação, sono, exercícios físicos, afeto, atenção, dentre outras) sejam supridas com sabedoria e o devido suporte de profissionais da saúde especializados.
Matéria escrita por:
Tauily Claussen D´Escragnolle Taunay
Nenhum comentário